quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pincel e Nuvem

O diário de Nina


             As nuvens que vejo hoje estão esparsas. Como miragens borradas, aquareladas em céu de mar calmo. Poucas imagens eu vejo, mas consigo definir um peixe, daqueles com cara de caveira... Um sapo sorrindo. Hum, essa é boa, só mesmo minha imaginação que enxerga um sapo sorrindo. Será que eles sorriem? Ops! Cadê o peixe? Já se desfez em meio ao movimento que não vigiei... Para onde ele fora? No que se transformara? Está bem! Está bem! Sei que ele, ou melhor, a nuvem dele continua por lá, e que se movimentou, uma parte sua evaporou, outra se espalhou, outra se juntou com outra nuvem e o vento fez o casamento delas. Embolou, enrolou, foi com a brisa, que lá em cima deve ser vento forte, acredito.

              O que dá a forma à forma? Isso eu comecei a pensar assim que percebi que nenhuma de todas as nuvens que observei até agora conseguiram durar no tempo. Todas se desmancharam bem na frente dos meus olhos! Não foi ninguém que me contou, eu mesma vi! Consegui guardá-las na memória, cheguei a fazer coleções de nuvens quando era menor: nuvens-coelho, nuvens-gato, nuvens-monstro, nuvens-melancia, nuvens-homenzinho, nuvens-bonecos, nuvens-castelo, nuvens-chaleira, nuvens-tubarão, nuvens-cavalinho, nuvens-menina... Nuvens-nada. Com as minhas mãos cheguei a modelar, enquadrando assim, com os dedos uma parte de nuvem que seria uma carinha sorrindo, podia ser um retrato de alguém. Quando eu tirava o enquadramento dos dedos, poderia ser outras coisas, já não mais parecia o que eu disse que era. Acho que existiu só na minha imaginação que olhava pra ela.

                 Agora já não tem mais nenhuma das primeiras formas que vi hoje. O sapo então, nem sei para onde foi, acho que virou girino, rsrsrs. Agora o céu está só riscado de nuvem, ainda cheio, mas não vejo mais os bichos, as coisas... O céu também cansou de inventar.

                Tem momentos em que há só o céu, nadinha de nuvens. Céu limpo, como dizia minha avó.. Céu limpo, pergunto? Não seria então apenas ele no que ele mesmo é: o céu? Olho de novo: sendo céu limpo ou sendo céu cheio, é o mesmo céu que está lá. Tendo ou não nuvens, eu fico imaginando. 


                    Eu e meu amigo Lando gostamos de inventar histórias enquanto imaginamos as nuvens sendo o que queremos que elas sejam. Mesmo as histórias que inventamos também desaparecem, viram fumaça no ar. Vão para o mesmo lugar que vão as nuvens: mistério! Migram para o Canadá?

                    No final das contas o que nunca muda é o céu mesmo. Sempre está lá, palco de nossas histórias inventadas, modeladas na nossa imaginação. E você, o que está vendo nessas nuvens?



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