quinta-feira, 14 de novembro de 2013

“Antes do Passado”, quarenta e dois anos depois


Li “Antes do Passado”, da jornalista gaúcha Liniane Haag Brum. 

Trata-se de uma obra composta por uma investigação que dura uma vida, a da autora, em busca de recompor a história de seu tio paterno, Cilon Cunha Brum, dado como desaparecido político em 1971, na guerrilha do Araguaia. A pertinência do tema para a sociedade brasileira e a qualidade literária da obra foram motivos dentre os quais seu projeto fora um dos contemplados com a Bolsa FUNARTE de Criação Literária, no ano de 2010. 

Com Liniane Haag Brum (Blog). Porto Alegre, 2013.
Mais do que a recuperação do percurso histórico de Cilon Cunha Brum, o Tio Cilon, a obra revela o nascimento de uma mulher desbravadora, a presença de uma mãe firme, a ausência de alguém amado na família. Trata do vazio provocado pelo roubo que fizeram nas suas vidas e da tarefa pessoal assumida pela autora de reconstituir a história de antes. Uma história que é de cada brasileiro também.

Frente às buscas nas delegacias por notícias de familiares desaparecidos durante as perseguições por parte da ditadura militar, os arquivistas tinham uma única resposta: “Nada consta”. Nenhum dado, nenhum registro, seus nomes nem sequer constavam nas listas. Como? Liniane, em sua investigação obstinada, partindo dos poucos indícios sobre a história de Cilon, foi conhecendo do quê a ilegitimidade era capaz para se impor neste país. Ainda hoje, sem estar sob o jugo dos militares, o povo camponês do Araguaia sofre com o trauma da tortura direta do exército em busca de algumas dezenas de jovens que, entre as décadas de sessenta e início de setenta, construíam uma experiência peculiar de educação popular em meio à mata amazônica. O medo de falar sobre os acontecimentos prevalece na região. O que mudou?

O Brasil continua conservando mentiras que lhe impedem de amadurecer. “Antes do Passado” é um livro que trata da recuperação da verdade, pois muito consta para se trazer à tona nessa história.

O tempo não permitiu mais que a Vó Lóia, mãe de Tio Cilon, acompanhasse as descobertas de Liniane nas cartas a ela endereçadas. Esse é o tempo vencido de cada um. Mas há o tempo que não se vence. O tempo testemunha.
Por Angela Hofmann, nov / 2012.


 
Antes do Passado - 
O silêncio que vem do Araguaia
Liniane Haag Brum
Arquipélago Editorial
2012





quinta-feira, 7 de novembro de 2013

“Adormecida: Cem anos para sempre”

Editora 8INVERSO, 2012.
"Outro comentário muito bonito, poético, de Angela Hofmann, sobre Adormecida: cem anos para sempre. Gente, depois dizem que o leitor é receptor passivo! Jamais. O leitor sempre descobre coisas que o autor jamais pensou em dizer... seja em palavras ou em artes:"  
Paula Mastroberti  (Facebook).


Comentário para “Adormecida: Cem anos para sempre”.
Para sempre. Nem por isso igual.

O que dizer do que vejo nestes acontecimentos em mim refletidos? O que ponderar? É possível entender o porquê disto? Seria ambição demais para mim, uma simples criatura. Mas o que vejo... Ah! Isso sim! Posso afirmar que vi! Do quê em mim se insinua, mesmo que para ti, Príncipe, seja obscuro, sou testemunha fatal. Dos ciclos, da eternidade, do vazio... Quando fôra mesmo que adentraste o castelo, a caverna vaginal? Achas mesmo que a história se repetiu por causa de tua presença? Ou apesar dela? Pois que a bela renascia...

Num reino encantado nasceu um bebê, uma bela menina, que em todos despertava as melhores qualidades!  Crescia a menina, mas antes de alcançar sua maturidade foi adormecida por um feitiço implacável, devido a um dom desconsiderado. O feitiço foi lançado: teria que ferir-se num fuso! Nada vence uma feiticeira... Nada! Ninguém!, com estas palavras a feiticeira selou o destino que se consolidaria.

Príncipe, quando percebeste que os portões do castelo estavam abertos e aventastes fugir e abandonar aquela  sorte, surgiu, bem a sua frente, a possibilidade do amor. Mas o que viste era ainda uma criança, uma mulher em flor...  Não foste embora. Tu ficaste porque precisavas desta história para te libertar também. Libertaste a ti mesmo, mas não libertaste a história. O castelo continua no mesmo lugar, o tempo não foi interrompido. São cem anos, o que durará este ciclo de vida, e durará para sempre. Se a história voltava a se se repetir, como afirmavam as zelosas Fadas Madrinhas, é porque a Princesa já fora despertada dantes e tornava a ser um bebê! O castelo é destruído para quem vive o seu feitiço. Mas continua intacto até o próximo enfeitiçado. Uma história que se vive de dentro para fora.

Bela estava fadada a deixar de ser uma menina e transformar-se em tempo de espera: no fuso, a morte. A morte de quem era. Junto, vinha a promessa de reviver. A  menina se perdera, a infância morrera. Quase uma violação, o corpo que mudava pedia passagem. Assustadores instintos e forças subterrâneas invadiam o sexo. A latência se despedia.

A história não se repetirá se o feitiço for quebrado. O que é quebrar o feitiço nesse caso? Selar a vida nos lábios da adormecida integrando e sensualizando a criança? Sair do castelo assumindo tua vida real - de fato, unindo-te à mulher, tua descendência te traria poder e imortalidade. Aceitar o convite de amar até as últimas consequencias do inferno, oferecido pela feiticeira? 

A caverna está disponível, e o que ela revela é particular para cada estrangeiro, lidando com seus próprios fantasmas. Com sua própria morte. Morte do explorador, morte do andarilho para se tornar um homem. Todos estão mortos ou dormem?, tu te perguntavas. E o ciclo se repete, infinitamente, quantas vezes houver uma mulher ou um homem. Enquanto houver adormecida-bruxa e um estrangeiro-príncipe. Para ti ainda há muito que percorrer, Príncipe! Há que integrar em ti mesmo a mulher que despertaste, sem te perder em dualidades, ir além do bem e do mal.  Nem adormecida, nem bruxa. No fuso, a fusão, da menina em mulher, da ingenuidade à sabedoria. Inocentar a ti mesmo pelo fogo que te consome.

Disto “eu” sei porque reflito... me fitas todos os dias, me chamas de espelho.


Por Angela Ariadne Hofmann, dez / 2012.

...
 Adormecida: Cem anos para sempre”. A ed. 8INVERSO quebra o feitiço de mais de vinte anos do livro de Paula Mastroberti, revelando a princesa contida na feiticeira: 
“meu interesse pelos contos de fadas jamais arrefeceu, nem mesmo na adolescência, etapa em que, em geral, renegamos as preferências infantis.… fui uma estudante de Artes destoante, avessa aos conceitos ainda presos a uma estética modernista nos quais eu não conseguia me encaixar.” (Paula Mastroberti).
“Adormecida: Cem anos para sempre”
Paula Mastroberti
Ed. 8INVERSO
2012

terça-feira, 29 de outubro de 2013

8° Concurso de Narrativas 2013 de Morro Reuter

Tema: "A magia do circo histórias faz lembrar..."

XX Feira do Livro e da Leitura
Complexo da SMEC, Morro Reuter-RS

Município de Morro Reuter-RS

Já há alguns anos venho prestando atenção às notícias sobre o incentivo à leitura desenvolvido no município de Morro Reuter, situado na serra gaúcha. Embora não conhecesse mais nada a respeito de sua história, este município passou a receber meu respeito, acomodando-se num lugar delicado em meu coração. Emancipado há vinte e um anos e somando desde então vinte feiras do livro, Morro Reuter recebe no mês de outubro vários escritores que vêm prestigiar sua Feira do Livro e da Leitura com o apoio do Instituto Estadual do Livro (IEL). Neste ano ocorreu a 8ª edição do Concurso de Narrativas, que recebeu e selecionou trabalhos ilustrados (educação infantil) e narrativas escritas a nível nacional, nas diferentes categorias de inscrição dos anos escolares, passando por estudantes de graduação e pós-graduação, categoria livre e categoria escritor, partindo da ideia de que o circo faz lembrar histórias.


Pouco subo a serra, e a BR 116 é uma rota raramente usada por mim que moro em Viamão e costumo ir ao Bosque de Canela subindo pela RS 020, passando pelo município de Taquara. Portanto, não tinham ocorrido até então destinos que me levassem a conhecer essa cidade. 



Obelisco de Livros:
marco do incentivo à leitura em Morro Reuter




Porém, na sexta feira à tarde, dia 25 de outubro, foi um dia especial. Subi a serra sozinha, dessa vez pela BR 116, primeiramente passando por Esteio, minha cidade natal, na região metropolitana, com destino a Morro Reuter. Com a distância de 75 km de minha casa, a viagem durou menos que duas horas. Foi ensolarada, quente, ensombreada pelo verde novo dos plátanos que brotaram na entrada da primavera. Logo após o município de Dois Irmãos, chego a uma placa que anuncia a Feira do Livro: entrada à esquerda da faixa. A primeira alegria foi ver o pórtico que acolhe os visitantes. Ah, parei para tirar algumas fotos.



Cheguei mais cedo, visitei a feira, verifiquei os livros. Levei uns presentinhos meus de Viamão à comunidade morroreutense: uma cestinha do povo Mbyá-Guarani, trançada na aldeia da Estiva, e o livro Povos Indígenas e Educação, no qual participo com um artigo, os quais foram entregues à Secretaria Municipal de Educação e Cultura, para que componha o acervo da Biblioteca Pública Érico Veríssimo.


Desde 1993. Álbum 2013


Estandes da Feira


Na sequência da programação, participei da inauguração do Memorial da Feira do Livro e da Leitura, na presença das autoridades locais, artistas, professoras, escritores, e a assessora do Programa Entre Estrelas e Letras, Dr ª Juracy Assmann.



Inauguração do Memorial da Feira do Livro de Morro Reuter
Percebi rapidamente que a história das feiras do livro confundia-se com a própria história do município e seus vinte e um anos de existência: são vinte feiras do livro! Durante as falas das testemunhas desta trajetória, percebi que eu também participava desta imbricação, pois o texto que inscrevi no concurso de narrativas 2013, só passou a existir para mim através da provocação lançada pelo próprio concurso. Não havia escrito anteriormente nenhuma história com o tema do circo, ou mesmo criado personagens semelhantes. Desafiada, percorri em mim lembranças foscas dos circos pequenos que acampavam e se apresentavam também numa cidade pequena como era a minha, Esteio. O estilo de vida circense se instalava em algum terreno baldio do município e lá ia a criançada curiosa procurar saber o que eles tinham de tão diferente da nossa pacata rotina familiar. 

Escrevi uma narrativa para esse concurso, inspirada por ele mesmo. Deixei as imagens brotarem, descartei as prematuras, conversei com as lembranças, despertei os encantamentos, reconciliei-me com as decepções. Por fim reuni e acatei as ensinanças do tempo, pois lá se foram algumas décadas de vida. Desta feita, nasceram dentro de mim dois personagens, cada um com sua história e sua vida, mas também imbricados um na história do outro. Com eles sonhei, me diverti e me emocionei. Pari uma metáfora que, confesso, doía um pouco enquanto a escrevia. Dor de escritor é meio diferente, dor de algo que se tira de dentro, sem se tirar de verdade. Algo que se revela, algo que se põe e se mostra. Uma história é gestada e parida; acontece na frente da gente, como um  filho. Para mim, esse pedaço que se tira de dentro e que também nos ajuda a conhecer um cadinho mais do que se é feito mesmo, vem travestido na vida dos personagens gerados na profusão da mente do escritor. 

Essa história foi inscrita na Categoria Livre do concurso, onde poderia se inscrever quem não fosse atualmente estudante e que não tivesse livro publicado na área da literatura. Na sexta à noite ocorreu a comunicação oficial dos resultados e a celebração de premiação. Minha narrativa "O Menino e o Palhaço", foi contemplada em primeiro lugar na sua categoria.


Premiação da Categoria Ilustração aos alunos da educação infantil.
Secretário de Educação e Cultura, Vice-Prefeito, Prefeito Municipal e Dr ª Juracy Assmann. 


1° Lugar na Categoria Livre,
8° Concurso de Narrativas de Morro Reuter.
 Com a Dr ª Juracy Assmann Saraiva.

 Agora "O Menino e o Palhaço" aguarda mais um tempo antes de ser divulgada, pois pode vir a ser publicada como um livro ilustrado. 


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terça-feira, 22 de outubro de 2013

ABAYOMI: Encontro Feliz



ABAYOMI,

do Yorubá, significa Encontro Feliz.

Pode ser traduzida como: 

“Ofereço para você o melhor que eu tenho em mim” ou “aquela que traz minhas qualidades.”

E também significa: Aquele que traz felicidade ou alegria.

ENCONTRO PRECIOSO: 
ABAY= ENCONTRO 
OMI= PRECIOSO


Edeji, quilombola, ministrando oficina Abayomi.
Museu da Comunicação Hipólito J. da Costa.

A ministrante desta oficina, a quilombola Edeji, conta-nos que dentro dos navios que raptavam os africanos para serem escravizados no Brasil, as mulheres-mães rasgavam a barra da saia e faziam Abayomis para as crianças brincarem...


E já aqui, escravizados ou nos quilombos, continuaram confeccionando as Abayomis (que pode ser menina ou menino) pedindo saúde e prosperidade...


Feita com retalhos de panos e com nós, por ser um encontro precioso, a Abayomi é dada como presente a alguém. Sendo uma relação de troca ou oferta, expressa as relações de reciprocidade próprias dos povos que mantém estreita relação com a terra.




Bonecas Abayomi
Oficina ministrada por Edeji, quilombola artesã do Quilombo Peixoto dos Botinhas, 
Capão da Porteira. Viamão-RS.

Facebook


Bonecas e Bonecos Abayomi.  Prof ª Cláudia Elis e alunos 
EMEF Victor Issler. Porto Alegre-RS.
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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Crianças Guaraní




Crianças Guaraní-Mbyá - créditos


O contato com a criança Guarani provocou em mim questionamentos e verificações de um outro modo de ser infância, suscitados em seus olhares, nas relações, nas condutas e nos princípios próprios de sua cultura, que até então eu pouco ainda compreendia.

Numa sociedade indígena como a Guarani, a concepção de tempo difere, e muito, da concepção ocidental, onde lazer, trabalho, educação e religião articulam-se sem estarem separados conceitualmente, como o é ocidentalmente falando. 

Durante a pesquisa que realizei com uma escola indígena desta etnia, em Viamão-RS, aproximei-me naturalmente das crianças através da convivência e observação de suas brincadeiras. Surpreendia-me com a facilidade de absorção de uma complexidade de regras onde crianças de seis anos, por exemplo, inteiravam-se perfeitamente com outras acima de dez anos de idade. Os bebês e crianças de colo participavam das atividades das crianças maiores, sendo levadas juntas, cuidadas e acarinhadas por elas. Observando este cotidiano infantil, dei-me conta, em dado momento, que não havia a circulação de bonecas, bichos de pelúcia ou outros brinquedos industrializados entre elas - pois vira quando receberam uma doação de vários brinquedos deste tipo. A própria realidade vivida ali nos desafios infantis de cuidar, amar, brincar e explorar o mundo a sua volta fazia parte de sua história, e não o faz-de-conta de "mamãe e filhinho", que esperaríamos ver na relação entre crianças e bonecos. Cabe aqui referir a centralidade das relações de corporalidade também na aprendizagem das crianças indígenas.

Brincando com Crianças Kaingang
 1º Forinho de Porto Alegre-RS,
 Fórum Social Mundial, 2010.
Perceber a criança enquanto sujeito ativo da sociedade, contribuindo para sua mudança ou permanência, faz parte de uma nova abordagem paradigmática que remete à nascente antropologia da infância. Pensar a criança perante uma rede de complexidade, compreendendo que pouco sabemos a seu respeito, que poucos estudos tem sido realizados sobretudo na América Latina e em culturas não-ocidentais, constitui tema a ser discutido no âmbito das políticas educacionais e de gestão da educação, considerando que parte-se de um momento histórico de quebra de certezas paradigmáticas, da descentralização do conhecimento a nível cultural.

A descoberta da relativização dos conceitos de infância a partir da ótica de cada cultura se deve muito aos estudos com a criança indígena. E há hoje um conjunto de pesquisas nas áreas das ciências sociais - antropologia e sociologia - que vem apontando para a compreensão da infância como construção social distinta de cultura para cultura.


Adaptação do texto publicado originalmente em:
HOFMANN, Angela Ariadne. Pensando a infância, o novo e a tradição a partir de uma pesquisa com os guaranis, 
In: INFÂNCIAS-cidades e escolas amigas das crianças. 
Euclides Redin, Fernanda Müller e Marita Redin (Orgs.).
Editora Mediação. Porto Alegre, 2007.


LINKS
Escola Indígena de Itapuã, Viamão-RS
Galeria de Fotos da inauguração da escola da Aldeia Tekoá Pindó Mirim
Indígenas em Viamão - RS


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Os terreiros de religiões afro-brasileiras e a proteção da infância

Dançando no 1º Forinho de Porto Alegre (Fórum Social Mundial, 2010).
  

Ao longo da constituição histórica do povo brasileiro, os terreiros de religiões afro-brasileiras desenvolveram funções altamente protetivas e nutricionais à infância das populações mais pobres e marginalizadas. 

Como a proteção, a adoção e a alimentação ocorrem coerentemente com as vivências da prática religiosa, a ludicidade expressada na dança, nos cantos e nos rituais é componente básico de todo um cotidiano mitologizado e ritualizado.

Segundo Vanda Machado*, a alegria é uma das características do candomblé. "O atabaque, elemento tomado como motivacional na experiência, é considerado como apoio na relação entre os homens e os orixás." Ainda segundo ela, "no terreiro, saber os cantos, saber os toques e o dançar constituem-se em motivação para as crianças e jovens que participam da festa do candomblé." A ritualização, a mitologização, a ludicidade e as aprendizagens preenchidas de significados fazem ter sentido o estar e fazer juntos. 

Machado, estudiosa das invenções pedagógicas nos terreiros de candomblé da Bahia, reforça a necessidade de olharmos a realidade brasileira de frente, ou seja, desvelarmos os ambientes pelos quais a educação se dá a nossas crianças, e esses espaços são também os espaços religiosos. 

Por que pouco se sabe sobre esta história?
Como os livros didáticos e a literatura infanto-juvenil apresentam hoje estes protagonistas?
Como a escola relaciona-se com estes outros espaços educativos?  


Texto publicado originalmente em
HOFMANN, Angela Ariadne. Culturas, corporeidade e ludicidade. 
 In: Universidade Luterana do Brasil ULBRA. (Org.). O Lúdico na Prática Pedagógica. Curitiba: Ibpex (Intersaberes), 2009. 


* Vanda Machado (Obras EDUFBA), "Ilê Axé: Vivências e invenção pedagógica - as crianças do Opô Afonjá". Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 2002.


LINKS: 



segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"O mensageiro alado"

Com Rogério Andrade Barbosa.
58 ª Feira do Livro de Porto Alegre-RS, 2012.

Mensagens aéreas. O que querem trazer?

Nos remetemos a uma aventura pelo que há de melhor a se fazer: amar.
Amar alguém, amar o que se faz, amar as descobertas, amar o ecossistema. Quem ama cuida. Quem ama se desacomoda, quem ama é convidado a agir, senão seu amor corre o risco de se extinguir. 

A obra de Rogério Andrade Barbosa, “O Mensageiro Alado”, trata de amor andarilho, curioso, arqueólogo de si mesmo ao aceitar os convites da vida. Gostosa leitura, adorável passeio pelo delta do Parnaíba e pelo parque das Sete Cidades no Piauí, mas antes partindo do antigo bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.

É possível ter coragem. É possível amar. 
Por Angela Hofmann, dez / 2012.


O mensageiro alado
Rogério Andrade Barbosa, ilustr. João Lin
Ed. Melhoramentos
2012. 

CÍRCULO DA VIDA
Oficina "Como brincam as crianças na África", 

com o escritor Rogério Andrade Barbosa.
58 ª Feira do Livro de Porto Alegre-RS, 2012





quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Encontros de Leitura no CEBB


Casa das Artes no Centro de Estudos
 Budistas Bodisatva Caminho do Meio.

 Ouvir e contar histórias é uma prática importante na Escola Caminho do Meio. Por meio das narrativas, crianças e adultos aprendem uns com os outros e, ao mesmo tempo expressam um pouco de seus mundos interiores. Foi por isso que Aneri Strack e Angela Hofmann, praticantes do CEBB, decidiram oferecer uma série de encontros literários aos alunos da Ênfase III e a seus professores. Elas aproveitaram o tema deste bimestre, que é a sabedoria discriminativa, para criar, com a participação das crianças, uma história sobre como o Buda Vermelho conversou com dois meninos que estavam brigando. A “especialidade” deste Buda é ensinar a respirar e se acalmar, mesmo nos momentos difíceis.

Texto publicado originalmente em
mandalaescola.org
 Já no segundo encontro, meninos e meninas relembraram a história e colocaram mãos à obra na confecção de bonecos de papel. Aneri Strack, que foi professora de artes, e Angela Hofmann, escritora e fã de literatura infantil, prepararam retalhos bem coloridos, para torcer na forma de tronco e pernas, e a cabeça era uma bolinha de jornal. Torce daqui, torce dali e pronto: por todo lado surgiram bonequinhos verdes, azuis, rosa choque. “Achei interessante como eles não se dispersaram na hora de produzir os bonecos: sentaram bem concentrados e fizeram tudo até o fim”, conta Aneri, no fim do encontro.
Mais um efeito da alegria que surge ao compartilhar histórias.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Contação de História "A Sabedoria do Buda Vermelho"

Contadora de histórias Aneri Strack
em parceria com Encontros de Leitura.
 
Casa das Artes, Centro de Estudos Budistas Bodisatva
Set / 2012
Olhem: a Escola Caminho do Meio já chegou!
Todos prontos?

"A Sabedoria do Buda Vermelho", idealização de Aneri Strack.

Como que por magia, os personagens vão sendo
 construídos na história.

O momento da sabedoria vermelha...  
"Lembram o que o Buda Vermelho disse aos
 personagens que estavam brigando, a Manu e o Juca?"

"Para melhor saber o que fazer, vamos sentar e respirar..."

"Sentar e silenciar para observar melhor
 o que está acontecendo..."
Relembrando a história...
"Quem quer aprender a fazer os bonequinhos?"


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

"Sozinha", de Márcia Leite


Fecho o livro Sozinha, de Márcia Leite, com o sentimento de Sozinha.

Fecho o livro e retorno: impulsivamente reabro-o várias vezes para rever algum detalhe, discutir qual era mesmo a idade da Jú, se dezessete ou dezoito. Com a desculpa talvez de querer saber um pouco mais do livro? Ou da Jú, ou da Márcia. Afinal, de quem foi a responsabilidade de fazer chegar até nós a solidão (ou solitude) de Júlia.

Não sei se conseguirei deixar o livro fechado, ou melhor, as cartas fechadas, envelopadas, afastadas de meus olhos. Porque sempre há mais um motivo para reabri-lo. Ou para não querer deixar de ser uma testemunha, uma espiã - observando pelo buraco da fechadura do coração de Júlia tudo que ali se passava, causando-me, por vezes, um tanto de constrangimento tal intimidade que rapidamente se instalara. Ou ainda, nessa desculpa, permanecer em contato com meus próprios sufocos e desassossegos frente à impermanência da vida a que estamos sujeitos, numa forma de recostar minha cabeça no ombro amigo de alguém que passa ou passou, pela experiência da morte e do vazio. Experiência que faz parte da minha vida e que sempre me espreita, espreita a todos.

Com as mãos indecisas fecho o livro, devolvo seu invólucro secreto às cartas cheias de filha de Júlia. Ela, à procura de uma cumplicidade. Eu, no encontro com esta através da busca de Jú. Mas devo fechá-lo pois preciso abrir outros livros, outras notícias, outras cartas.

Adormeço as páginas de Sozinha, de Márcia Leite, com o coração escancarado, com os olhos da alma úmidos, lágrimas que chorei por dentro. Sozinha, como há de ser.

Por Angela Hofmann, nov / 2012.

Sozinha
Márcia Leite
Ed. Edelbra
2012

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Primavera de todos nós


"Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira." 
Cecília Meireles. 


Em “A Primavera de Cecília, Beatriz Abuchaim situa a primavera de todos nós com contos delicados, sob um olhar preciso e sensível tratando das coisas que nos acontecem, tendo como protagonistas adolescentes. Nada mais primaveril.

Em minha leitura, as cenas passaram-se rápidas, mas com a duração exata do que cada palavra queria transmitir. Facilmente transportei-me e vivi na primeira pessoa cada um dos personagens. Beatriz toca no ponto da alma sonhadora, da alma que se confronta e que se refaz, tonta de sentimento. Profunda, é o que posso dizer. Simples, como é a vida.

"Vovô achava que as ideias são como ondas do mar. Todas elas contêm uma promessa de recuo, uma promessa de crescimento e uma promessa de avanço. “Seja terra para suas ideias, Cecília. Permita que elas arrebentem em você, absorva o sal que elas carregam, deixe os caranguejos invadirem seus espaços, amoleça seu corpo, sejas porosa ao afago das ondas. Todos estamos fadados ao ir e vir do que queremos que volte e do que desejamos que desapareça. A bênção, com ares de maldição, acontece sempre.” (ABUCHAIM, 2012, p.72-73).


Por Angela Hofmann, nov / 2012.

A Primavera de Cecília
Beatriz Abuchaim
Ed. Artes Ofícios
2012

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pincel e Nuvem

O diário de Nina


             As nuvens que vejo hoje estão esparsas. Como miragens borradas, aquareladas em céu de mar calmo. Poucas imagens eu vejo, mas consigo definir um peixe, daqueles com cara de caveira... Um sapo sorrindo. Hum, essa é boa, só mesmo minha imaginação que enxerga um sapo sorrindo. Será que eles sorriem? Ops! Cadê o peixe? Já se desfez em meio ao movimento que não vigiei... Para onde ele fora? No que se transformara? Está bem! Está bem! Sei que ele, ou melhor, a nuvem dele continua por lá, e que se movimentou, uma parte sua evaporou, outra se espalhou, outra se juntou com outra nuvem e o vento fez o casamento delas. Embolou, enrolou, foi com a brisa, que lá em cima deve ser vento forte, acredito.

              O que dá a forma à forma? Isso eu comecei a pensar assim que percebi que nenhuma de todas as nuvens que observei até agora conseguiram durar no tempo. Todas se desmancharam bem na frente dos meus olhos! Não foi ninguém que me contou, eu mesma vi! Consegui guardá-las na memória, cheguei a fazer coleções de nuvens quando era menor: nuvens-coelho, nuvens-gato, nuvens-monstro, nuvens-melancia, nuvens-homenzinho, nuvens-bonecos, nuvens-castelo, nuvens-chaleira, nuvens-tubarão, nuvens-cavalinho, nuvens-menina... Nuvens-nada. Com as minhas mãos cheguei a modelar, enquadrando assim, com os dedos uma parte de nuvem que seria uma carinha sorrindo, podia ser um retrato de alguém. Quando eu tirava o enquadramento dos dedos, poderia ser outras coisas, já não mais parecia o que eu disse que era. Acho que existiu só na minha imaginação que olhava pra ela.

                 Agora já não tem mais nenhuma das primeiras formas que vi hoje. O sapo então, nem sei para onde foi, acho que virou girino, rsrsrs. Agora o céu está só riscado de nuvem, ainda cheio, mas não vejo mais os bichos, as coisas... O céu também cansou de inventar.

                Tem momentos em que há só o céu, nadinha de nuvens. Céu limpo, como dizia minha avó.. Céu limpo, pergunto? Não seria então apenas ele no que ele mesmo é: o céu? Olho de novo: sendo céu limpo ou sendo céu cheio, é o mesmo céu que está lá. Tendo ou não nuvens, eu fico imaginando. 


                    Eu e meu amigo Lando gostamos de inventar histórias enquanto imaginamos as nuvens sendo o que queremos que elas sejam. Mesmo as histórias que inventamos também desaparecem, viram fumaça no ar. Vão para o mesmo lugar que vão as nuvens: mistério! Migram para o Canadá?

                    No final das contas o que nunca muda é o céu mesmo. Sempre está lá, palco de nossas histórias inventadas, modeladas na nossa imaginação. E você, o que está vendo nessas nuvens?