terça-feira, 29 de outubro de 2013

8° Concurso de Narrativas 2013 de Morro Reuter

Tema: "A magia do circo histórias faz lembrar..."

XX Feira do Livro e da Leitura
Complexo da SMEC, Morro Reuter-RS

Município de Morro Reuter-RS

Já há alguns anos venho prestando atenção às notícias sobre o incentivo à leitura desenvolvido no município de Morro Reuter, situado na serra gaúcha. Embora não conhecesse mais nada a respeito de sua história, este município passou a receber meu respeito, acomodando-se num lugar delicado em meu coração. Emancipado há vinte e um anos e somando desde então vinte feiras do livro, Morro Reuter recebe no mês de outubro vários escritores que vêm prestigiar sua Feira do Livro e da Leitura com o apoio do Instituto Estadual do Livro (IEL). Neste ano ocorreu a 8ª edição do Concurso de Narrativas, que recebeu e selecionou trabalhos ilustrados (educação infantil) e narrativas escritas a nível nacional, nas diferentes categorias de inscrição dos anos escolares, passando por estudantes de graduação e pós-graduação, categoria livre e categoria escritor, partindo da ideia de que o circo faz lembrar histórias.


Pouco subo a serra, e a BR 116 é uma rota raramente usada por mim que moro em Viamão e costumo ir ao Bosque de Canela subindo pela RS 020, passando pelo município de Taquara. Portanto, não tinham ocorrido até então destinos que me levassem a conhecer essa cidade. 



Obelisco de Livros:
marco do incentivo à leitura em Morro Reuter




Porém, na sexta feira à tarde, dia 25 de outubro, foi um dia especial. Subi a serra sozinha, dessa vez pela BR 116, primeiramente passando por Esteio, minha cidade natal, na região metropolitana, com destino a Morro Reuter. Com a distância de 75 km de minha casa, a viagem durou menos que duas horas. Foi ensolarada, quente, ensombreada pelo verde novo dos plátanos que brotaram na entrada da primavera. Logo após o município de Dois Irmãos, chego a uma placa que anuncia a Feira do Livro: entrada à esquerda da faixa. A primeira alegria foi ver o pórtico que acolhe os visitantes. Ah, parei para tirar algumas fotos.



Cheguei mais cedo, visitei a feira, verifiquei os livros. Levei uns presentinhos meus de Viamão à comunidade morroreutense: uma cestinha do povo Mbyá-Guarani, trançada na aldeia da Estiva, e o livro Povos Indígenas e Educação, no qual participo com um artigo, os quais foram entregues à Secretaria Municipal de Educação e Cultura, para que componha o acervo da Biblioteca Pública Érico Veríssimo.


Desde 1993. Álbum 2013


Estandes da Feira


Na sequência da programação, participei da inauguração do Memorial da Feira do Livro e da Leitura, na presença das autoridades locais, artistas, professoras, escritores, e a assessora do Programa Entre Estrelas e Letras, Dr ª Juracy Assmann.



Inauguração do Memorial da Feira do Livro de Morro Reuter
Percebi rapidamente que a história das feiras do livro confundia-se com a própria história do município e seus vinte e um anos de existência: são vinte feiras do livro! Durante as falas das testemunhas desta trajetória, percebi que eu também participava desta imbricação, pois o texto que inscrevi no concurso de narrativas 2013, só passou a existir para mim através da provocação lançada pelo próprio concurso. Não havia escrito anteriormente nenhuma história com o tema do circo, ou mesmo criado personagens semelhantes. Desafiada, percorri em mim lembranças foscas dos circos pequenos que acampavam e se apresentavam também numa cidade pequena como era a minha, Esteio. O estilo de vida circense se instalava em algum terreno baldio do município e lá ia a criançada curiosa procurar saber o que eles tinham de tão diferente da nossa pacata rotina familiar. 

Escrevi uma narrativa para esse concurso, inspirada por ele mesmo. Deixei as imagens brotarem, descartei as prematuras, conversei com as lembranças, despertei os encantamentos, reconciliei-me com as decepções. Por fim reuni e acatei as ensinanças do tempo, pois lá se foram algumas décadas de vida. Desta feita, nasceram dentro de mim dois personagens, cada um com sua história e sua vida, mas também imbricados um na história do outro. Com eles sonhei, me diverti e me emocionei. Pari uma metáfora que, confesso, doía um pouco enquanto a escrevia. Dor de escritor é meio diferente, dor de algo que se tira de dentro, sem se tirar de verdade. Algo que se revela, algo que se põe e se mostra. Uma história é gestada e parida; acontece na frente da gente, como um  filho. Para mim, esse pedaço que se tira de dentro e que também nos ajuda a conhecer um cadinho mais do que se é feito mesmo, vem travestido na vida dos personagens gerados na profusão da mente do escritor. 

Essa história foi inscrita na Categoria Livre do concurso, onde poderia se inscrever quem não fosse atualmente estudante e que não tivesse livro publicado na área da literatura. Na sexta à noite ocorreu a comunicação oficial dos resultados e a celebração de premiação. Minha narrativa "O Menino e o Palhaço", foi contemplada em primeiro lugar na sua categoria.


Premiação da Categoria Ilustração aos alunos da educação infantil.
Secretário de Educação e Cultura, Vice-Prefeito, Prefeito Municipal e Dr ª Juracy Assmann. 


1° Lugar na Categoria Livre,
8° Concurso de Narrativas de Morro Reuter.
 Com a Dr ª Juracy Assmann Saraiva.

 Agora "O Menino e o Palhaço" aguarda mais um tempo antes de ser divulgada, pois pode vir a ser publicada como um livro ilustrado. 


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terça-feira, 22 de outubro de 2013

ABAYOMI: Encontro Feliz



ABAYOMI,

do Yorubá, significa Encontro Feliz.

Pode ser traduzida como: 

“Ofereço para você o melhor que eu tenho em mim” ou “aquela que traz minhas qualidades.”

E também significa: Aquele que traz felicidade ou alegria.

ENCONTRO PRECIOSO: 
ABAY= ENCONTRO 
OMI= PRECIOSO


Edeji, quilombola, ministrando oficina Abayomi.
Museu da Comunicação Hipólito J. da Costa.

A ministrante desta oficina, a quilombola Edeji, conta-nos que dentro dos navios que raptavam os africanos para serem escravizados no Brasil, as mulheres-mães rasgavam a barra da saia e faziam Abayomis para as crianças brincarem...


E já aqui, escravizados ou nos quilombos, continuaram confeccionando as Abayomis (que pode ser menina ou menino) pedindo saúde e prosperidade...


Feita com retalhos de panos e com nós, por ser um encontro precioso, a Abayomi é dada como presente a alguém. Sendo uma relação de troca ou oferta, expressa as relações de reciprocidade próprias dos povos que mantém estreita relação com a terra.




Bonecas Abayomi
Oficina ministrada por Edeji, quilombola artesã do Quilombo Peixoto dos Botinhas, 
Capão da Porteira. Viamão-RS.

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Bonecas e Bonecos Abayomi.  Prof ª Cláudia Elis e alunos 
EMEF Victor Issler. Porto Alegre-RS.
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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Crianças Guaraní




Crianças Guaraní-Mbyá - créditos


O contato com a criança Guarani provocou em mim questionamentos e verificações de um outro modo de ser infância, suscitados em seus olhares, nas relações, nas condutas e nos princípios próprios de sua cultura, que até então eu pouco ainda compreendia.

Numa sociedade indígena como a Guarani, a concepção de tempo difere, e muito, da concepção ocidental, onde lazer, trabalho, educação e religião articulam-se sem estarem separados conceitualmente, como o é ocidentalmente falando. 

Durante a pesquisa que realizei com uma escola indígena desta etnia, em Viamão-RS, aproximei-me naturalmente das crianças através da convivência e observação de suas brincadeiras. Surpreendia-me com a facilidade de absorção de uma complexidade de regras onde crianças de seis anos, por exemplo, inteiravam-se perfeitamente com outras acima de dez anos de idade. Os bebês e crianças de colo participavam das atividades das crianças maiores, sendo levadas juntas, cuidadas e acarinhadas por elas. Observando este cotidiano infantil, dei-me conta, em dado momento, que não havia a circulação de bonecas, bichos de pelúcia ou outros brinquedos industrializados entre elas - pois vira quando receberam uma doação de vários brinquedos deste tipo. A própria realidade vivida ali nos desafios infantis de cuidar, amar, brincar e explorar o mundo a sua volta fazia parte de sua história, e não o faz-de-conta de "mamãe e filhinho", que esperaríamos ver na relação entre crianças e bonecos. Cabe aqui referir a centralidade das relações de corporalidade também na aprendizagem das crianças indígenas.

Brincando com Crianças Kaingang
 1º Forinho de Porto Alegre-RS,
 Fórum Social Mundial, 2010.
Perceber a criança enquanto sujeito ativo da sociedade, contribuindo para sua mudança ou permanência, faz parte de uma nova abordagem paradigmática que remete à nascente antropologia da infância. Pensar a criança perante uma rede de complexidade, compreendendo que pouco sabemos a seu respeito, que poucos estudos tem sido realizados sobretudo na América Latina e em culturas não-ocidentais, constitui tema a ser discutido no âmbito das políticas educacionais e de gestão da educação, considerando que parte-se de um momento histórico de quebra de certezas paradigmáticas, da descentralização do conhecimento a nível cultural.

A descoberta da relativização dos conceitos de infância a partir da ótica de cada cultura se deve muito aos estudos com a criança indígena. E há hoje um conjunto de pesquisas nas áreas das ciências sociais - antropologia e sociologia - que vem apontando para a compreensão da infância como construção social distinta de cultura para cultura.


Adaptação do texto publicado originalmente em:
HOFMANN, Angela Ariadne. Pensando a infância, o novo e a tradição a partir de uma pesquisa com os guaranis, 
In: INFÂNCIAS-cidades e escolas amigas das crianças. 
Euclides Redin, Fernanda Müller e Marita Redin (Orgs.).
Editora Mediação. Porto Alegre, 2007.


LINKS
Escola Indígena de Itapuã, Viamão-RS
Galeria de Fotos da inauguração da escola da Aldeia Tekoá Pindó Mirim
Indígenas em Viamão - RS


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Os terreiros de religiões afro-brasileiras e a proteção da infância

Dançando no 1º Forinho de Porto Alegre (Fórum Social Mundial, 2010).
  

Ao longo da constituição histórica do povo brasileiro, os terreiros de religiões afro-brasileiras desenvolveram funções altamente protetivas e nutricionais à infância das populações mais pobres e marginalizadas. 

Como a proteção, a adoção e a alimentação ocorrem coerentemente com as vivências da prática religiosa, a ludicidade expressada na dança, nos cantos e nos rituais é componente básico de todo um cotidiano mitologizado e ritualizado.

Segundo Vanda Machado*, a alegria é uma das características do candomblé. "O atabaque, elemento tomado como motivacional na experiência, é considerado como apoio na relação entre os homens e os orixás." Ainda segundo ela, "no terreiro, saber os cantos, saber os toques e o dançar constituem-se em motivação para as crianças e jovens que participam da festa do candomblé." A ritualização, a mitologização, a ludicidade e as aprendizagens preenchidas de significados fazem ter sentido o estar e fazer juntos. 

Machado, estudiosa das invenções pedagógicas nos terreiros de candomblé da Bahia, reforça a necessidade de olharmos a realidade brasileira de frente, ou seja, desvelarmos os ambientes pelos quais a educação se dá a nossas crianças, e esses espaços são também os espaços religiosos. 

Por que pouco se sabe sobre esta história?
Como os livros didáticos e a literatura infanto-juvenil apresentam hoje estes protagonistas?
Como a escola relaciona-se com estes outros espaços educativos?  


Texto publicado originalmente em
HOFMANN, Angela Ariadne. Culturas, corporeidade e ludicidade. 
 In: Universidade Luterana do Brasil ULBRA. (Org.). O Lúdico na Prática Pedagógica. Curitiba: Ibpex (Intersaberes), 2009. 


* Vanda Machado (Obras EDUFBA), "Ilê Axé: Vivências e invenção pedagógica - as crianças do Opô Afonjá". Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 2002.


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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"O mensageiro alado"

Com Rogério Andrade Barbosa.
58 ª Feira do Livro de Porto Alegre-RS, 2012.

Mensagens aéreas. O que querem trazer?

Nos remetemos a uma aventura pelo que há de melhor a se fazer: amar.
Amar alguém, amar o que se faz, amar as descobertas, amar o ecossistema. Quem ama cuida. Quem ama se desacomoda, quem ama é convidado a agir, senão seu amor corre o risco de se extinguir. 

A obra de Rogério Andrade Barbosa, “O Mensageiro Alado”, trata de amor andarilho, curioso, arqueólogo de si mesmo ao aceitar os convites da vida. Gostosa leitura, adorável passeio pelo delta do Parnaíba e pelo parque das Sete Cidades no Piauí, mas antes partindo do antigo bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro.

É possível ter coragem. É possível amar. 
Por Angela Hofmann, dez / 2012.


O mensageiro alado
Rogério Andrade Barbosa, ilustr. João Lin
Ed. Melhoramentos
2012. 

CÍRCULO DA VIDA
Oficina "Como brincam as crianças na África", 

com o escritor Rogério Andrade Barbosa.
58 ª Feira do Livro de Porto Alegre-RS, 2012





quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Encontros de Leitura no CEBB


Casa das Artes no Centro de Estudos
 Budistas Bodisatva Caminho do Meio.

 Ouvir e contar histórias é uma prática importante na Escola Caminho do Meio. Por meio das narrativas, crianças e adultos aprendem uns com os outros e, ao mesmo tempo expressam um pouco de seus mundos interiores. Foi por isso que Aneri Strack e Angela Hofmann, praticantes do CEBB, decidiram oferecer uma série de encontros literários aos alunos da Ênfase III e a seus professores. Elas aproveitaram o tema deste bimestre, que é a sabedoria discriminativa, para criar, com a participação das crianças, uma história sobre como o Buda Vermelho conversou com dois meninos que estavam brigando. A “especialidade” deste Buda é ensinar a respirar e se acalmar, mesmo nos momentos difíceis.

Texto publicado originalmente em
mandalaescola.org
 Já no segundo encontro, meninos e meninas relembraram a história e colocaram mãos à obra na confecção de bonecos de papel. Aneri Strack, que foi professora de artes, e Angela Hofmann, escritora e fã de literatura infantil, prepararam retalhos bem coloridos, para torcer na forma de tronco e pernas, e a cabeça era uma bolinha de jornal. Torce daqui, torce dali e pronto: por todo lado surgiram bonequinhos verdes, azuis, rosa choque. “Achei interessante como eles não se dispersaram na hora de produzir os bonecos: sentaram bem concentrados e fizeram tudo até o fim”, conta Aneri, no fim do encontro.
Mais um efeito da alegria que surge ao compartilhar histórias.